Quando é que vamos começar a falar sobre o preço dos produtos digitais? Bora lá, não vou considerar a parte ambiental aqui, por mais importante que ela seja, pra não desviar a atenção do que eu quero falar.
Tava numa conversa com amigos sobre essa “nova” política de privacidade do Whatsapp e uma amiga levantou um ponto fundamental que é basicamente: quem paga a conta? Se queremos tudo de graça, quem tem condição de fornecer isso pra gente? E qual vai ser o “preço”?
Sob o meu ponto de vista, o debate central deveria ser em torno da pergunta: “como permitimos que algumas empresas cresçam tanto e tomem conta de tantos assuntos que dizem respeito às nossas vidas?”
Uma única empresa controlar o Facebook, Instagram e Whatsapp significa, pra mim, que ela sabe até o que pensamos. Isso tem um preço, e embora fique cada vez mais claro que o preço é a informação, não sabemos (ainda) onde isso irá nos levar.
Veja bem, eu tô criticando um aparato estrutural, não o uso que você dá ou o fato de que você não pode pagar por um app que ofereça o mesmo serviço com mais privacidade e segurança. O que também é problemático né, afinal, se o presente já é digital, acho que a privacidade deveria ser um direito, não um serviço.
Acontece que a conjuntura é muitíssimo mais complexa do que mudar de aplicativo de mensagem, mas eles não são os únicos que coletam informações sobre nós. Ou será que o iOS, Android, Twitter, Instagram, Youtube, Google não coletam nossos dados e nos oferecem tudo de graça à toa, em pleno capitalismo neoliberal?
E esse raciocínio também vale pra um ponto muito sensível que está há anos nos levando a extremismos e caos político-social: as notícias. Quantos jornais você assina? Quantos lê de graça? Será que não dá pra dividir uma assinatura com amigos como você faz com Netflix ou Spotify? Em tempos de fakenews, como vamos combatê-las se ninguém quer pagar pelo jornalismo de qualidade?
Eu não tenho respostas, tenho só algumas perguntas. Acho que é importante debater controle, vigilância, governança de dados, privacidade, custo... Mas a questão que fica é: como fazer então, já que não queremos pagar por nada?
OBS: Bora separar as coisas hein?! Quando eu falo do Whatsapp, do Instagram, etc eu não falo de você que é usuário ou que trabalha lá, mas da empresa e de sua forma de operar ;)